ANÁLISE - Super Mario 3D World + Bowser's Fury

 



Depois do estrondoso falhanço da Wii U a Nintendo está completamente decidida em punir jogadores de todo o mundo, obrigando-os a comprar títulos lançados na amaldiçoada consola. Mesmo eu, proprietário de uma, decidi na altura ignorar muitos dos seus lançamentos, entre eles o Super Mario 3D World. Mas isso era o meu Eu de 2013. Estamos agora em 2021, o mundo lida com uma pandemia que já matou milhões, uma crise económica global estará a meses de chegar e o fascismo parece estar novamente na moda. Sim, por favor Nintendo, tenta lá vender-me novamente esse jogo colorido do canalizador saltitão. Eis então que chega Super Mario 3D World, não apenas como uma reimpressão do lançamento de 2013 mas agora mais rápido, com alguns movimentos novos e traz também com ele, anexado, um novo titulo na forma de Bowser's Fury.

Os jogos Mario em 3D são na minha opinião uma das mais fascinantes propriedades intelectuais em toda a indústria. Uma mente cínica pode sentir-se tentada a dizer que se limitam a ser atualizações dos seus antecessores, ou que a Nintendo é adversa a tomar riscos e à inovação, mas a realidade, na minha opinião, não podia ser mais contrastante. Poucos franchises, se algum no espaço AAA, são tão experimentais como Mario e vou mais longe até e dizer que a experimentação está na base do ADN dos títulos 3D onde a mascote da Nintendo é a estrela.




3D World não foge a essa regra. Estruturalmente pega no original 2D de 1990 Super Mario World. Temos um mundo subdividido em varias áreas, cada uma delas então com vários níveis de plataformas que teremos de percorrer dentro de um tempo limite até atingir a sua meta final, e trá-lo para um universo a três dimensões. Depois, partindo dessa base, é como uma developer jam session onde cada nível serve como exercício de criatividade e o jogador nunca sabe bem o que lhe vai ser pedido. É nesta constante surpresa, assente num modelo de jogabilidade completamente solidificado e da implementação quase perfeita e intuitiva das suas diferentes mecânicas, que reside a grande força de Mario e este titulo não é exceção. É sem dúvida fácil ter como garantido quão sólidos são os seus princípios fundamentais, de nos darem um espaço tridimensional onde vamos controlar esta personagem e interagir com o meio de formas diversas, sempre coerentes, sem bugs ou glitches, onde tudo simplesmente funciona. Também impressionante, e fundamental para se entender o prazer genuíno que um jogo como este trás ao jogador, é quão perto se encontra das razies do que é um videojogo. Ao jogar 3D World frequentemente dei por mim a sorrir, ou mesmo a soltar gargalhadas, apenas pelo seu gameplay, pela forma como subverte expectativas e como até na sua já expectável riqueza de recursos ainda encontra espaço para brincar com o jogador, para o surpreender na sua subversão de mecânicas. O mais perfeito exemplo da sua aparente inesgotável criatividade e qualidade são os níveis em que encarnamos a personagem de Captain Toad, dos quais posteriormente viria a ser criado o delicioso spin off Captain Toad: Treasure Tracker.

No topo de toda a excelência esperada de um Mario (não estou a falar contigo Sunshine!) temos ainda a possibilidade de se jogar em co-op com até um total de 4 jogadores. Mario, Luigi, Peach e Toad são as personagens elegíveis, adicionando uma hilariante componente de caos que recomendo vivamente a quem tenha a possibilidade de arranjar pelo menos um companheiro para, nem que só apenas pontualmente, partilhar esta aventura. Já acima por demais mencionei quão grande é qualidade de 3D World, mas mais impressionante se torna pela forma como facilmente acolhe vários jogadores nas suas mecânicas, introduzindo nuances de forma premeditada mas que para o jogador surgem quase que acidentalmente. Quer antes, quer após 3D World, outros títulos introduziram componentes multiplayer na série principal do Super Mario, mas nenhum o implementou com tanto sucesso ou profundidade, permitindo que se jogue do principio ao fim a dois, três ou quatro jogadores.



Mas claro, não é perfeito e algumas das suas falhas comprometem o seu potencial. A mistura da abordagem típica de um Mario 3D com um limite de tempo ao jeito de um clássico 2D entra em clara rota de colisão com o prazer maior que é simplesmente andar a explorar e interagir numa área à procura de segredos, sendo que frequentemente me vi forçado a apressar o passo para terminar um nível antes que o cronometro chegasse ao zero. Isto cria um certo desafio, mas na realidade pouco mais é que um incomodo visto não elevar realmente a dificuldade e interferir com o desfrute do jogo. Também a câmara em alguns momentos é desadequada pelo limitado controlo que temos sobre a mesma, o que leva a algumas mortes desnecessárias por ser difícil julgar distâncias. Quando em co-op a câmara também pode revelar problemas em acompanhar a ação, aqui estando mais dependente do comportamento dos jogadores. Problemas que não sendo ruinosos, ou generalizados, interferem na qualidade final.

Graficamente temos aquilo a que a Nintendo nos habituou em anos recentes, gráficos coloridos que embora não impressionem pelo uso das mais recentes tecnologias não deixam de impressionar pela forma quase agnóstica como se relacionam com o hardware. Quero dizer que, embora obviamente seja sempre possível melhorar a fidelidade visual, nos últimos anos a Nintendo demonstrou em vários títulos que o seu modelo de luz e uso de materiais ultrapassa as expectativas geradas pelo hardware, com um estilo que irá sobreviver ao passar dos anos, como aliás prova este titulo agora com 8 anos e que visualmente não destoa de um titulo atual. Menos impressionante é a banda sonora, longe da excelência de um Galaxy 2, com as suas orquestrações magnificas, ou um Odyssey, pela variedade e criatividade, limitando-se junto com os efeitos sonoros a cumprir o papel esperado de um Super Mario. Ou seja, é “simplesmente” bom.



Francamente a Nintendo poderia ter ficado por aqui e já estaríamos na presença de um excelente lançamento mas, como mencionei na abertura deste texto, junto vem também Bowser's Fury. Não apenas como mais um conjunto de níveis a juntar ao titulo principal mas sim como um jogo independente, onde mais uma vez a Nintendo experimenta com novas ideias. Mas serão essas ideia boas ou deveriam ter ficado apenas no caderno de esboços?

Não vale a pena tentar criar suspense porque efetivamente não existe nenhuma surpresa aqui. Bowser's Fury é mais uma excelente entrada na série, tendo talvez como único aspeto inesperado ir bem para além daquilo que poderia ser apenas um parco DLC, adicionado à última hora para criar uma ilusão de valor. Cortando radicalmente com o formato parcelado do titulo com que se faz acompanhar, temos aqui um open world onde Mario irá dedicar-se à sua atividade favorita de colecionar itens, aqui chamados Cat Shines, com o intuito final de derrotar Bowser. Mecanicamente vamos reencontrar algumas ideias utilizadas em de 3D World, a temática dos gatos torna-se mais predominante - E anda bem, mais gatos sempre, em qualquer contexto! - E vários assets gráficos são reutilizados, sem no entanto haver um excesso de familiaridade ou sensação de repetição relativamente ao titulo principal.  



Bowser's Fury demarca-se de outros títulos Mario pela forma como todos os níveis se encontram no mesmo espaço físico, na forma de ilhas que vamos desbloqueando e que uma vez disponíveis podemos aceder a qualquer momento. Algo que sem dúvida gostaria ver explorado com mais profundidade num futuro lançamento, provavelmente em novo hardware. Mas o ponto alto, e origem do seu nome, é a forma como Bowser vai interferindo com a progressão do jogador, ciclicamente aparecendo num formato Daikaijū, qual Godzilla, contra quem inicialmente pouco mais podemos fazer que apenas afugentar mas que, eventualmente, poderemos combater, tornando-nos nós também gigantes. Isto é especialmente interessante devido à mudança de escala, onde todas as ilhas e os seus edifícios - basicamente os níveis - passam a ser diminutos elementos que podemos saltar sobre em apenas um salto ou usar como escudo contra os ataques de Bowser. Mais uma vez, uma ideia que gostaria de ver expandida, explorando as mudanças de escala com maiores nuances mecânicas. 

Relativamente a 3D World resolve os problemas associados à câmara, dando total controlo ao jogador e eleva a qualidade visual e musical. Sendo visualmente um dos títulos mais impressionantes na consola hibrida da Nintendo, embora infelizmente limitado a 30 frames por segundo e em alguns momentos com umas quebras abaixo disso. Por outro lado, a implementação de co-op é reduzida a 2 jogadores e muito mais simplista, com o segundo jogador a servir como elemento de apoio, muito limitado em termos de ação e funções. Talvez mais apropriado para uma criança que queira acompanhar um adulto na sua aventura.   




Super Mario 3D World + Bowser's Fury + Luigi Bros.* é um titulo obrigatório para quem possuir uma Switch e tiver perdido o lançamento original na Wii U. É um excelente Mario, no sentido mais tradicional e, em cima disso, tem de longe a melhor implementação de co-op da série. Bowser's Fury não valerá o preço isoladamente, pela sua curta duração, mas é um fantástico complemento e talvez um teaser ao que o futuro poderá trazer às aventuras do nosso canalizador favorito. Recomendado a quem goste de ser feliz, não exige outro requisito. 


9/10     

Jogado na Nintendo Switch

      




*Uma versão de Luigi Bros. passa a estar disponível após o fim de 3D World  


Comentários

Mensagens populares deste blogue

ANÁLISE - Unto the End

GAMEPASS - 5 tesouros escondidos

ANÁLISE - Narita Boy