ANÁLISE - The Medium


Numa geração em que o espaço entre pequenos jogos independentes e os grande títulos AAA foi desaparecendo, a Bloober Team conquistou o seu lugar nesse nicho AA. Depois de em 2014 terem alcançado alguma notoriedade com o agora clássico de culto Layers of Fear e em 2017 reforçado o seu estatuto, como uma equipa que apesar de divisiva junto dos críticos conquistou a sua propria audiência, com o aclamado _Observer – tendo também lançado Blair Witch e a sequela para Layers of Fear em 2019 – a equipa Polaca está de volta em 2021 com The Medium, que nas suas próprias palavras é o seu titulo mais ambicioso e pessoal. Será este o lançamento que vai projetar a Bloober Team para uma aceitação mais universal, ou será The Medium mais um titulo divisivo?

A resposta a esta questão é bastante óbvia. The Medium claramente não procura ser um produto que segue tendências de mercado e como tal estará sempre inevitavelmente condenado à periferia das massas de jogadores. Mas é isso algo mau? Não, de todo. É um jogo com a sua própria identidade. Reminiscente de épocas passadas dos videojogos, tanto de aventuras dos anos 90 como de jogos de terror da era PS2 e algo experimental, fazendo o jogador controlar duas realidades simultaneamente ou saltando entre elas de forma a resolver puzzles e avançar a história. Sublinhando ainda mais a sua identidade única The Medium subverte as expectativas criadas pela sua própria aparência. Aquilo que parece ser um jogo clássico de survival horror na verdade tem quase nada de terror e ainda menos de sobrevivência. Em vez disso trata-se mais de suspense e foca-se no contar de uma história com contornos sobrenaturais e obscuros que, apesar de ir expandindo as suas temáticas e cobrindo vários temas sensíveis simultaneamente, nunca deixa de ser incrivelmente pessoal.

Mas é na ânsia de contar uma uma boa história que o jogo revela os seus maiores problemas. Primeiro porque os puzzles que constituem o núcleo deste jogo são demasiado simples. Por um lado isto resulta bem porque não quebra a fluidez da narrativa, mas maioritariamente falha por não oferecer ao jogador aquele sentimento de conquista ao resolver um enigma. Claro que isto vai variar de jogador para jogador, e mesmo no jogo uns puzzles serão mais satisfatórios que outros, mas é o meu sentimento geral de que o jogo merecia um pouco mais de profundidade neste campo. Depois também nos momentos de maior ação, que se baseiam em secções de stealth ou perseguição com vários graus de interatividade com o mundo. Aqui o problema é estrutural e profundo mas pode ser facilmente reduzido mais uma vez à prioridade dada à narrativa e que a mesma decorra de forma consistente. O jogo falha em solidificar os seus sistemas de forma consistente e em vez disso vai introduzindo nuances às suas mecânicas que depois se vê forçado a ir explicando através de mensagens de texto intrusivas durante a própria acção. Esta má implementação de sistemas acaba por quebrar um pouco a imersão do jogador tanto na história como no mundo.


E falando do mundo, este é a meu ver um dos pontos de relevo. Não que se tratem dos ambientes mais detalhados já vistos, mas a sobriedade da arquitetura brutalista do hotel em ruínas onde se passa a maior parte do enredo, com os seus tons cinza e linhas simples e o contraste com o mundo paralelo e as suas formas bizarras e tons mais vivos resulta bastante bem. Isto junto com o meticuloso cuidado cinematográfico com que cada plano é construido contribui para um trabalho visualmente sólido, ainda que tecnicamente inconsistente. À parte visual junta-se um trabalho sonoro competente. No geral a música e os efeitos de som funcionam excecionalmente na criação da atmosfera serena com que o jogo decorre, contribuindo para a sua identidade única. Mas em certas alturas não pude deixar de sentir que a música não correspondeu exatamente ao momento, por exemplo, falhando em elevar tensão em fases que seria esperado que o fizesse. Mais um problema de implementação do que da própria qualidade.

Em termos de performance infelizmente é longe de perfeito, como é apanágio dos títulos da Bloober Team. Nada dramático mas sem dúvida que compromete a qualidade da experiência, sendo o principal problema a forma irregular com que os frames são apresentados no ecrã, resultando frequentemente numa perda de fluidez na imagem. Por vezes também ocorrem problemas com o stream de texturas, levando um pouco de tempo a que objetos apresentem o máximo de detalhe, o que é curioso, num momento temos o jogo a saltar entre mundos sem qualquer ecrã de loading noutro temos o jogo a debater-se para apresentar um modelo de um simples objeto. Incongruências próprias de uma pequena equipa, tradicionalmente já com problemas de otimizarão nos seus jogos.



Concluindo, The Medium é um jogo perfeito para ser jogado no conforto de um fim de semana chuvoso. Levará cerca de 7 horas a ser terminado e apesar de não ser de todo isento de problemas a sua atmosfera e história são cativantes o suficiente para manter o jogador interessado. Não será um jogo para todo o tipo de jogadores, mas para quem aprecia experiências diferentes será um titulo recomendado. Para quem já conhece e gosta dos títulos anteriores desta equipa direi mesmo que é obrigatório. 


7/10

Jogado na Xbox Series X

Disponível em:PC,  Xbox Series S/X



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