ANÁLISE - Yes, Your Grace

 



Há muito muito tempo, no distante reino de Davern, havia um rei de nome Eryk. Eryk tinha três filhas, Lorsulia, Cedani e Arsalia e, a seu lado, a sua esposa, a bela rainha Aurelea. Tudo estava bem em Davern até ao 13º aniversário de Lorsulia, onde uma promessa feita num passado distante irá obrigar a uma desconfortável aliança, como forma de salvar o futuro do reino. Assim se inicia Yes, Your Grace, um jogo de gestão de reino mais focado em política e diplomacia do que em números, mas onde a frieza dos números irá sempre influenciar muitas das nossas decisões, mesmo aquelas com maior peso emocional.


Se as primeiras impressões são frequentemente as mais importantes, Yes, Your Grace, com a sua pixel art, cria um obstáculo que para muitos será quase intransponível. O baixo nível de detalhe, misturado com o fraco sentido estético na escolha da palete de cores, não é só desagradável ao olhar, como coloca problemas de legibilidade, com uma linguagem visual confusa onde não é possível uma leitura eficaz dos elementos interativos. Piorado ainda por muitas vezes as notificações de interação não surgirem com a brevidade esperada. E não quero ser mal entendido, não tenho problemas com uma abordagem visual mais lo-fi. Títulos como Gato Roboto, Hyper Light Drifter ou Papers, Please são, para mim, bons exemplos disso mesmo. Mas Yes, Your Grace falha pelo pobre sentido estético e implementação no design de jogo. Talvez num ecrã menor resulte melhor, mas é uma direção artistica completamente desadequada numa consola onde muitos irão jogar através da sua televisão de alta definição. A qualidade, ou a falta dela, nas animações, torna tudo ainda pior. 

Também no departamento de som é algo desapontante. Imaginem a musica mais genérica possível para ilustrar o período histórico retratado e é isso que temos aqui. Se houvessem elevadores na era medieval esta seria sem dúvida a escolha musical apropriada. Alguns momentos em que junta vocalizações à música a qualidade eleva-se um pouco, mas a própria fidelidade dos instrumentos e qualidade da mistura deixa sempre um pouco a desejar. No entanto tenho que deixar um elogio aos efeitos sonoros. Como será de esperar não existem diálogos gravados, mas os sons sem nexo usados para tomar o lugar da linguagem verbal resultam bastante bem a evocar diferentes sotaques e personalidades, e facilmente nos fazem soltar um sorriso.



O loop de Yes, Your Grace é simples. Semanalmente, enquanto reis, somos visitados na nossa corte por uma variedade de personagens que vão desde o simples camponês a outros regentes. Personagens essas que nos fazem variados pedidos, a que, na medida da nossa disponibilidade material ou moral, iremos tentar responder. Pode ser algo tão simples como um pedido de ajuda de alguém que se sente doente, alguém que precisa de uma bruxa para excomungar um demónio, ou um Rei que quer casar com uma das nossas filhas a troco de um exército, para uma futura guerra que se aproxima. Temos também que equilibrar a ajuda que estamos disponíveis a oferecer com o facto de termos que ir preparando o nosso castelo e exército para esse vindouro conflito, o que também tem um custo de mantimentos ou ouro associados. Chegando o fim da semana, abandonamos a corte e pudemos explorar vários locais da nossa fortificação, interagir com diversas personagem da nossa família, funcionários e até prisioneiros que tenhamos feito. Também aqui teremos que tomar varias decisões que irão influenciar a narrativa de forma mais ou menos direta.

Por norma não gosto muito de abordar a história quando falo de um jogo, por dois motivos. Primeiro porque pessoalmente é algo que prefiro ir descobrindo apenas enquanto jogo e imagino que o leitor tenha a mesma preferência, segundo porque não é raro uma má historia ser irrelevante para a minha apreciação de um jogo. Neste caso é mais complicado. Grande parte da sua manifestação mecânica é feita através do impacto das nossas decisões, assim como também, mesmo quando não diretamente influenciado pelas nossas escolhas, muitas das alterações ao seu modelo de jogo vêm diretamente de resultados inesperados e reviravoltas na narrativa que não quero revelar. Direi apenas que o jogo faz um bom trabalho em ir introduzindo novos elementos e modificando a sua jogabilidade em paralelo com a evolução da narrativa, e que não tem problemas em abordar assuntos bem negros. Se por um lado é frequentemente jovial, tonto até, não hesita também em assumir toda a brutalidade expectável num mudo medieval.



Se comecei este texto com alguma negatividade relativamente ao seu estilo visual e sonoro - problemas reais que não tenho dúvida irão deixar alguns pelo caminho logo de início – quero deixar claro que o que este jogo alcança em termos de gestão e narrativa sobrepõe-se aos problemas sobre mencionados. A forma constante com que nos vai bombardeando com problemas e escolhas, e a maneira como tudo acaba por ter impacto na nossa história, é desafiante de uma forma que nunca se interpõe ao fluir do jogo e, ao mesmo tempo, vai-nos lentamente envolvendo na sua trama. Peca talvez por não ser filosoficamente tão estimulante como Paper, Please - a sua influência mais óbvia - mas o maior elogio que lhe posso dar é que, se ao início estava bastante reticente em dar-lhe uma hipótese, no fim estava de coração nas mãos a lançar maldições aos meus inimigos, por todo o sofrimento infligido. O facto de ser um jogo com uma curta duração torna-o perfeito para ser jogado várias vezes, optando por tomar outras decisões.


7/10

Jogado na Xbox Series X

Disponível em: PC, Xbox, Switch, macOS

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